> Escritos: 05.2007

31.5.07

20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

13. Solomon Burke - None Of Us Are Free

Os meus passos levam-me, finalmente, para o miradouro. Tudo aqui começou, tudo aqui vai continuar. Encosto-me à grade que fica no limite do miradouro. Espreito lá para baixo e vejo as pessoas que seguem as suas vidas, indiferentes a tudo. Penso para mim mesmo que se só seremos livre se conseguirmos romper todas as barreiras mas este argumento é logo contrariado pela tua imagem que me vem à cabeça imediatamente.
Eu tenho-te a ti e sou livre. Se calhar liberdade absoluta não é uma coisa que queiramos a todo o custo ou então decidimos por livre arbítrio estar acorrentados a alguém. Esfrego os olhos; estou cansado e dói-me o corpo. Sento-me no mesmo banco onde nos sentámos naquela noite em que me cativaste e deixo-me ficar a olhar sobre a cidade e o rio. Uma sensação de inutilidade percorre-me o corpo. Estou aqui, sozinho, sem saber o que pensar e construir para te dizer mais tarde. Voltarei para junto de ti de mãos a abanar e sem palavras que reforcem o meu amor por ti; antes, palavras que te farão chorar porque eu não sei o que mais te hei de dizer.
Sabes que te amo, sabes que quero continuar a amar-te; mas não sei como o fazer, não sei o queres mais de mim. Estás presa a mim e puxar-te-ei para o fundo, porque não sei evitá-lo. A minha resolução de ser forte e seguir a via mais difícil esmorece. Sinto-me novamente atraído para a garrafa que tenho em casa e que me chama. Poderia ir para casa e bebê-la enquanto não voltas. Far-me-ia sentir melhor, far-me-ia dormente e não pensar em mais nada.
Suspiro e sinto as tuas mãos pegar nas minhas. Sinto-te a apoiar-me nestas circunstâncias difíceis e que tardam em passar. Suspiro novamente e fecho os olhos para que a cidade se desvaneça e apenas te veja a ti. Chego a uma conclusão.
Nenhum de nós será verdadeiramente livre, não por ter outra pessoa connosco, mas porque não libertamos as amarras que verdadeiramente nos prendem. Contigo posso voar porque me puxas para cima. Se a cortar, caio inexoravelmente para o fundo que não o é; para a escuridão, para a depressão. Tu estás ligada a mim porque eu impeço que voes demasiado alto e o sol te derreta as asas. Se cortares o que nos liga, subirás, subirás, subirás e nunca mais ninguém te verá, mas nunca mais terás alguém que te agarre quando precises. Por outro lado, se eu cortasse com tudo o que me puxa para baixo, poderia exercer uma força contrária menor e talvez pudéssemos subir um pouco mais e ficar em equilíbrio de maneira a ver todos os que estão lá em baixo e que nos pedem para descermos e lhes contarmos como é a liberdade lá em cima, onde estamos só nós dois e o cordão umbilical que nos liga.

28.5.07

Conquistas

A cada instante que passa,
a cada instante que perdura,
são conquistas e glória,
são momentos de rara vida.

A cada hora alcançada
há uma nova e única história
e cada simples momento de ternura
é ganho como uma taça.

Conquistada a vida
e feita a maturação,
a luta é feita com ardor.

De olhos bem abertos
e de mãos estendidas,
reivindico o meu prémio.

Em cada frase inacabada,
cada palavra tua conta,
deixas-me em suspenso
no meu destino incerto.

Se te encontras por perto,
o coração bate mais intenso
e se o nosso olhar se encontra,
rendo-me à tua visão encantada.

Entregamo-nos a prazeres discretos
e às doces tardes sem despedidas,
num novo estilo boémio.

Cicatrizada cada ferida
e ampliada cada sensação,
conquisto então o teu amor.

RCA

24.5.07

20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

12. Leon Russel - Stranger In A Strangeland

Os teus passos levam-te para longe, eu fico aqui nesta esplanada banhada pelo sol. Fico indeciso em relação ao rumo que tomar agora; foste trabalhar e tenho uma tarde inteira para matar sozinho. Decido vaguear pelas ruas enquanto penso.
Os meus passos levam-me para sítios que desconheço, ruas novas que nem sabia que existiam. Continuo a percorrer a calçada escura que liga prédios antigos nas ruas apertadas até me perder. Despreocupado por tal facto, deixo-me levar pelas colinas e vales que a rua atravessa numa interminável colecção de prédios baixos, velhos e sujos.
Esboço um sorriso ao perceber que me encontro na mesma situação em relação a ti. Sinto-me perdido nesta coisa nova de te ter. Já há tanto tempo que não amava alguém que não sei o que fazer. Sinto-me como um estrangeiro que chega a um país que desconhece a língua, as pessoas, os costumes. Estranho tudo; a comida, o modo de vida, até o próprio ar.
Considero todos estes factores para fazer um rápida análise a nós. Eu não sei o que faço, tu estás feliz. Será razão suficiente para interromper tudo o que conseguimos construir até aqui? Não sei o que deva fazer para que continues feliz, não sei como é que faço para evitar descer a rua errada que te leve à infelicidade e que me mataria por dentro. Sigo pela opção mais fácil de não pensar nisso, pelo menos até poder dizer-te isto e resolvermos juntos esta minha aflição. Ao pensar nisto percebo que me fizeste evitar recorrer à solução mais fácil e, por isso mesmo, devo-te mais do que a felicidade; tenho um dever de ter proteger sempre e nunca ceder ao impulso de te usar como escape para os meus problemas.
Paro as minhas deambulações físicas e psicológicas e sento-me no degrau de uma porta. O sol começa a declinar, fazendo as janelas brilhar e as ruas dourar. Um vento fresco sopra do rio e transforma o calor em algo suportável durante um bocado, o tempo suficiente para descansar de olhos fechados e tentar afastar da mente tudo isto, pelo menos só por um bocado…
Quando o calor volta, levanto-me e continuo o meu caminho rumo ao desconhecido. Chegado a uma bifurcação tomo o caminho que sobe pela direita e não deixo, uma vez mais, de me sentir como um estrangeiro que faz a escolha errada ao atravessar mais uma fronteira.

17.5.07

Sublimação

O sangue corre-me nas veias como se transportasse vidro partido. Ao que parece, a dor psicológica potencia-se e manifesta-se tornando a dor real, física. Mas o que é que me pode magoar? O que é que neste momento me sobressalta? Nada.

Não temo pela solidão a que poderei estar fadado, não temo pelas horas frias do próximo inverno nem pelo isolamento nas tardes em que o sol declina e o vento faz arrepiar a pele quente sem que ninguém o veja.

Não temo por aquilo que já dei de barato. Temo agora pela minha própria subsistência física.

Escrever alivia o fardo. Já depositei aqui tanta coisa, tantos fantasmas exorcizados, tantas correntes destruídas, tanta dor sublimada pelos meus dedos. Mas que posso eu fazer se o meu organismo já está a dar de si? Que posso mais vivenciar, experimentar, escrever, descrever, negar, amar se não consigo fazer o sangue parar de bater tão forte, se não consigo fazer o coração sossegar, se não consigo controlar nada?

20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

11. Joe Cocker - Feelin' Alright

Desligo a torneira e passo as mãos pela cara para tirar a água. Puxo a toalha e começo a esfregar-me nela. Visto-me vagarosamente enquanto deixo o cabelo assentar e depois moldo-o com as mãos para ficar como gosto. Vou-me sentar na sala e fico a ouvir os sons do anoitecer que entram pela janela aberta. O vento que bate nos pinheiros e obriga as pinhas a cair, os pequenos animais que rastejam no trilho de areia e pedrinhas, um carro que passa na estrada lá ao longe. Inspiro esta vida toda e, inebriado, fecho os olhos para despertar os sentidos.
A noite é cortada pela luz que acendes e os seus sons pela janela que fechas. Passas-me a mão pelo cabelo julgando que durmo, mas estou desperto e atento a tudo o que fazes. Delicio-me a ouvir-te fazer o jantar, enquanto mexes nas panelas e estás de volta do fogão. Na perspectiva de encher o estômago, acabo por dormitar estendido no sofá. Acordas-me com o cheiro a comida que trazes contigo e despertas-me totalmente com a visão do teu cabelo apanhado para trás, de modo a não te incomodar enquanto fazias o jantar para o teu homem.
Enquanto jantamos, sentados na cozinha, memorizo cada nuance da tua pele queimada e cabelo rebelado que soltaste agora sobre os teus ombros. Fecho os olhos para ver se guardei uma representação fiel para a ter comigo sempre que não estás e cada vez mais consigo captar todos teus pormenores e detalhes. Contente com tal facto, como apenas enquanto te vejo falar e contar tudo o que planeias fazer nestes dias.
Sinto-me bem nesta condição; o que não há de bom para sentir? Para trás ficaram horas de trevas e desespero e prevêem-se bons sonhos para esta noite. As pálpebras começam a pesar e a respiração torna-se mais pausada e quase que adormeço ali mesmo. Mas sou despertado quando acidentalmente bates com o garfo no prato. Abro os olhos na pequena medida suficiente para ter ver também a deixar a cabeça deslizar para baixo de sono. Puxo-te pela mão até à cama. Deito-me e vejo-te despir e bocejar, numa combinação que nunca sonhei que pudesse ser melhor do que soa. Tiro as calças apressadamente e enfio-me nos lençóis frios. Aguento o choque da temperatura até que entras e as tuas pernas pequenas entram em contacto com as minhas. Aninhas-te junto a mim e sou envolvido por cabelo até descobrir a tua cara. Cubro-a de beijos e sinto o teu corpo colar-se ao meu como uma lapa. Segredo-te que te amo e adormeço enquanto me lembro mais uma vez que nunca me senti tão bem.

10.5.07

Complementaridades ou Explicações de uma filosofia subjacente

Olho-me ao espelho: gasto, cansado, danificado, incompleto. Alguns adjectivos que poderão classificar a minha aparência e que definem aquilo que sinto ser e que, provavelmente, sou.

Por mais que tente, não consigo forçar a minha imaginação a projectar a imagem de alguém ao meu lado; não, esses tempos já passaram, essas cartas já foram jogadas e a mão foi perdida. Desliguei-me cedo demais e perdi o curso de água que sustentava a minha vida.

Decido-me a viver estoicamente, procurando sempre a tranquilidade mas reconheço-me incapaz de seguir os ensinamentos proferidos por alguém melhor do que eu nisto. Não porque rejeite a filosofia subjacente, mas porque apenas não consigo.

Não consigo conceber uma vida sozinho ao mesmo tempo que não consigo conceber uma vida acompanhado. Não consigo nada e lentamente deixo-me deslizar perante tantos exemplos de coragem e heroísmo.

Pária, inútil, rejeitado, deformado, desdenhável encaixam agora na descrição.

De que me servem as memórias dos nossos maiores se não servem para me erguer dos joelhos e estar de pé perante os ventos que batem impiedosamente? Nunca vem a brisa reconfortante e o ar doce da primavera é somente uma lembrança dos tempos que não voltarão.

O desespero calmamente instala-se; afinal, se não sirvo para mim mesmo, como hei-de, alguma vez, servir para alguém?

20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

10. Gomez - Get Miles

Suspiras e mudas de posição no banco, mantendo sempre os olhos fechados. Tremes ligeiramente; sem tirar os olhos da estrada, aumento mais um pouco o aquecimento.
Levo-te para longe. Fugimos da cidade que adoramos mas que nos mata com o silêncio artificial dos seus apartamentos, os carros que circulam nas ruas, todas as pessoas nos cafés, restaurantes e lugares públicos com as suas conversas e acções fúteis que transformam a vida numa colectânea de momentos sem significado e sem ligação entre si. Sim, é por isso que fugimos da cidade em direcção ao mar e aos pinhais que escondem o extenso areal oposto ao oceano brilhante como uma gigante safira que, no limite, se confunde com o azul do céu.
Em surdina, perguntas se falta muito. Respondo que não enquanto passo a mão direita do volante para a tua cara e a acaricio gentilmente. Ajeitas-te de modo a facilitar-me a tarefa e quase que me vêem lágrimas aos olhos por seres só minha. Dorme, digo eu, porque quando acordares já estaremos longe de tudo quanto possa ser um entrave à nossa felicidade. Esboças um sorriso que detecto pelo canto do olho e pareces deslizar para um sono de contentamento imperturbável para o qual invejo-te por não te poder seguir.
Acordas, finalmente, quando o sol que espreita pelas cortinas meio corridas te ilumina a cara. Abres os olhos e, com um sorriso lânguido por saberes que te observo, espreguiças-te de maneira gloriosa. Ficas ainda uns segundos a remexer-te nos lençóis alvos até que decides despertar de vez e ergues-te para me beijares e me apertares contra ti. Pego-te na mão e levo-te por ela e vens obedientemente como que uma criança a quem foi prometida um chocolate se se portasse bem durante um bocado. Seguimos para as traseiras das casas e mostro-te o carreiro por entre o pinhal que leva à praia e ao mar azul refulgente ao sol.
Quando assomes à porta, já vestida, metemos por entre as árvores até chegarmos ao areal puro e branco. Vou dar um mergulho enquanto observas tudo o que te rodeia. Quando regresso, a tremer de frio, ainda te encontras assoberbada por tanta liberdade que nos isola, que nos torna únicos, que nos torna felizes. Dás por mim agarrado à toalha e envolves-me num abraço e secas-me com o teu calor. Beijo-te e saboreias o sal do meus lábios avidamente, como se quisesses injectar o sal directamente para a corrente sanguínea. Tiras-me os cabelos molhados da cara num gesto cheio de amor e estendes a minha toalha na areia para que me possa deitar e secar ao sol. Confortado com tanto carinho, adormeço com plena consciência que a paz que sempre desejei estava ali naquela porção de areia que tu ocupas ao meu lado.
Acordo com gotas de água que caiem na minha cara. O meu primeiro pressentimento é que tudo isto não passara de um sonho e que estou em casa e chove e nunca serei capaz de ser feliz. Mas chamas-me e tudo é bom novamente. Tapas o sol mas o teu sorriso neste momento brilha mais que qualquer estrela e vejo-me reflectido nos teus olhos brilhantes e cheios de vida. Levanto-me com um salto e abraço-te. Envolvo-te nos meus braços com força suficiente para nunca mais me fugires, nem mesmo enquanto dormimos. Sussurro-te isto ao ouvido e beijas-me com fervor. Arranhas-me as costas com as tuas unhas ainda molhadas e fazes-me arrepiar. Aperto-te cada vez mais e cada vez mais me fazes arrepiar e gemer de prazer. Deitamo-nos nas toalhas abertas sob o sol e, naquela praia deserta delimitada pela imensidão do oceano azul de um lado, pelos pinheiros verdes que se agitam levemente ao sabor do vento do outro e pela areia que se estende até ao horizonte longínquo, fazemos amor pela primeira vez.

Em seguida

Acabou, na última 5ª feira, a primeira parte da estória que ando a publicar.

Os primeiros nove capítulos referem-se aos momentos que levaram as duas personagens a conhecerem-se e a ficarem juntos.

A segunda parte, que começa já no próximo post, terá a duração de 5 capítulos, partindo depois para a terceira e última parte.

Segue então o próximo capítulo.

3.5.07

20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

9. Damien Rice - Delicate

As gotas de água da chuva escorregam pelo poste lentamente, como se a tentarem agarrar e desesperadamente evitar entrar na corrente que as leva para a sarjeta. A meus pés, uma poça é gentilmente sacudida pelas gotas que se soltam do meu cabelo, quebrando a planura da superfície. Estou aqui, na esquina, à tua espera, vendo a chuva a cair e os carros a passar. Apressadas, as pessoas procuram o refúgio dos vãos das portas ou tentam cobrir-se ao máximo com o que arranjam. Eu deixo-me molhar, não há razão para o contrário.
Enquanto não chegas, revejo interiormente a sequência de acontecimentos que me leva a estar agora, aqui à chuva, a aguardar um vislumbre teu. São imagens que vejo e não a realidade, como se estivesse entre o sono e o limite do acordar; uma espécie de dormência em que as coisas que vemos parecem tão reais que a única maneira de sabermos que não o são é procurarmos uma falha nessas coisas. Se forem infalíveis, sei que estou a dormir, pois as desilusões são, em tudo, inevitáveis. E tudo quanto me trouxe aqui não apresenta disparidades ou incoerências com o que me lembro. Por isso desconfio outra vez que não sejas real ou que a desilusão esteja ao virar da esquina e tu não apareças porque sabes que eu te vou puxar para baixo se não tivermos força suficiente para nadar para cima.
Absorto em tais pensamentos potenciados pela quantidade de água que me rodeia, reparo apenas no último instante que atravessas a rua e por isso a maneira como olhas para os lados para tua própria preservação é deliciosa. Abres ligeiramente a boca quando mexes a cabeça e atiras o cabelo para trás quando olhas para a frente e me vês. Puxas-me para debaixo de um toldo e fitamo-nos sem trocar palavras, os dois molhados pelas lágrimas das nuvens cinzentas que choram porque falharam miseravelmente em manter-nos separados. Uma madeixa do teu cabelo enrola-se num caracol suavemente pousado na tua bochecha esquerda. Afasto-a carinhosamente enquanto que com a outra mão alcanço a tua nuca e massajo-ta. Quieta, observas-me enquanto eu tento demonstrar que sei ser carinhoso e gentil. Semicerras os olhos e tens um arrepio de prazer quando passo os meus dedos mais junto do pescoço. E aí, nessa esquina, indiferentes às pessoas que passam, à água que escorre, às nuvens que gemem de tristeza, ao tempo que desliza naquele momento perfeito, os nossos lábios tocam-se, com naturalidade, com delicadeza.
Por uns doces segundos, permanecemos assim e de olhos fechados. Depois, quando os abrimos, pegas-me pela mão como a uma criança que se deixa ir pela promessa de brincadeiras e levas-me para dentro de um café. Aí, sobre um chocolate quente para ti e um café para mim, esporadicamente dizemos o que passámos nas horas até ali, pois não há necessidade de palavras neste equilíbrio delicado de olhares afectuosos e carícias nas mãos. Recosto a cabeça nas costas da cadeira e, de olhos fechados, suspiro. Quando os reabro, recebes-me com um sorriso radioso que ofusca e momentâneamente ilumina a rua deserta que nos espreita melancolicamente pelas vidraças. Não sei como responder a tal oferta e revelo simplesmente a conclusão a que cheguei durante a noite.
Ao ouvires que te amo, as tuas pestanas batem confusamente mas não perdes a compostura porque logo a seguir dizes que já o sabias porque sentes o mesmo. Sinto que me apertas a mão, por cima da mesa, com mais força mas não vejo isso porque o meu olhar ficou temporariamente paralisado pela simplicidade com que disseste aquilo. Beijamo-nos novamente pela liberdade que temos para o fazer e pela vontade de não mais falar e apenas tentar exprimir fisicamente aquilo que nos consome; o desejo delicado de nos entregarmos um ao outro.