> Escritos: 20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

17.5.07

20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

11. Joe Cocker - Feelin' Alright

Desligo a torneira e passo as mãos pela cara para tirar a água. Puxo a toalha e começo a esfregar-me nela. Visto-me vagarosamente enquanto deixo o cabelo assentar e depois moldo-o com as mãos para ficar como gosto. Vou-me sentar na sala e fico a ouvir os sons do anoitecer que entram pela janela aberta. O vento que bate nos pinheiros e obriga as pinhas a cair, os pequenos animais que rastejam no trilho de areia e pedrinhas, um carro que passa na estrada lá ao longe. Inspiro esta vida toda e, inebriado, fecho os olhos para despertar os sentidos.
A noite é cortada pela luz que acendes e os seus sons pela janela que fechas. Passas-me a mão pelo cabelo julgando que durmo, mas estou desperto e atento a tudo o que fazes. Delicio-me a ouvir-te fazer o jantar, enquanto mexes nas panelas e estás de volta do fogão. Na perspectiva de encher o estômago, acabo por dormitar estendido no sofá. Acordas-me com o cheiro a comida que trazes contigo e despertas-me totalmente com a visão do teu cabelo apanhado para trás, de modo a não te incomodar enquanto fazias o jantar para o teu homem.
Enquanto jantamos, sentados na cozinha, memorizo cada nuance da tua pele queimada e cabelo rebelado que soltaste agora sobre os teus ombros. Fecho os olhos para ver se guardei uma representação fiel para a ter comigo sempre que não estás e cada vez mais consigo captar todos teus pormenores e detalhes. Contente com tal facto, como apenas enquanto te vejo falar e contar tudo o que planeias fazer nestes dias.
Sinto-me bem nesta condição; o que não há de bom para sentir? Para trás ficaram horas de trevas e desespero e prevêem-se bons sonhos para esta noite. As pálpebras começam a pesar e a respiração torna-se mais pausada e quase que adormeço ali mesmo. Mas sou despertado quando acidentalmente bates com o garfo no prato. Abro os olhos na pequena medida suficiente para ter ver também a deixar a cabeça deslizar para baixo de sono. Puxo-te pela mão até à cama. Deito-me e vejo-te despir e bocejar, numa combinação que nunca sonhei que pudesse ser melhor do que soa. Tiro as calças apressadamente e enfio-me nos lençóis frios. Aguento o choque da temperatura até que entras e as tuas pernas pequenas entram em contacto com as minhas. Aninhas-te junto a mim e sou envolvido por cabelo até descobrir a tua cara. Cubro-a de beijos e sinto o teu corpo colar-se ao meu como uma lapa. Segredo-te que te amo e adormeço enquanto me lembro mais uma vez que nunca me senti tão bem.