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10.5.07

Complementaridades ou Explicações de uma filosofia subjacente

Olho-me ao espelho: gasto, cansado, danificado, incompleto. Alguns adjectivos que poderão classificar a minha aparência e que definem aquilo que sinto ser e que, provavelmente, sou.

Por mais que tente, não consigo forçar a minha imaginação a projectar a imagem de alguém ao meu lado; não, esses tempos já passaram, essas cartas já foram jogadas e a mão foi perdida. Desliguei-me cedo demais e perdi o curso de água que sustentava a minha vida.

Decido-me a viver estoicamente, procurando sempre a tranquilidade mas reconheço-me incapaz de seguir os ensinamentos proferidos por alguém melhor do que eu nisto. Não porque rejeite a filosofia subjacente, mas porque apenas não consigo.

Não consigo conceber uma vida sozinho ao mesmo tempo que não consigo conceber uma vida acompanhado. Não consigo nada e lentamente deixo-me deslizar perante tantos exemplos de coragem e heroísmo.

Pária, inútil, rejeitado, deformado, desdenhável encaixam agora na descrição.

De que me servem as memórias dos nossos maiores se não servem para me erguer dos joelhos e estar de pé perante os ventos que batem impiedosamente? Nunca vem a brisa reconfortante e o ar doce da primavera é somente uma lembrança dos tempos que não voltarão.

O desespero calmamente instala-se; afinal, se não sirvo para mim mesmo, como hei-de, alguma vez, servir para alguém?