Um breve sopro de vento contraria o calor. Deitado, de braços abertos, olho para cima e vejo o céu azul, límpido. Cá em baixo, no meio da seara dourada, respiro lentamente. As minhas mãos acariciam as espigas e sou levado através da planície ondulada.
Doce e melancólica, esta estende-se até o horizonte, até o infinito. A calma invade-me; as pálpebras, pesadas, cerram-se. O toque suave da pele acaricia-me e denuncia a razão da minha paz. Tudo se espraia lentamente: a planície, a respiração, a carícia, o amor.
Ela está imóvel. Destoam-se apenas os seus cabelos escuros no meio do trigo brilhante ao sol; como que a manter o equilíbrio cósmico. Toco-lhe a cara, como que para me certificar da sua natureza corpórea e não etérea. É real, tal como a minha felicidade.
Uma nuvem tapa o sol, somos cobertos pelas sombras. Uma cigarra canta numa árvore distante. A nuvem passa. Tudo é ritmado, lento, mas seguro.
Tal como o meu amor por ti.
RCA