> Escritos: 20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

24.5.07

20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

12. Leon Russel - Stranger In A Strangeland

Os teus passos levam-te para longe, eu fico aqui nesta esplanada banhada pelo sol. Fico indeciso em relação ao rumo que tomar agora; foste trabalhar e tenho uma tarde inteira para matar sozinho. Decido vaguear pelas ruas enquanto penso.
Os meus passos levam-me para sítios que desconheço, ruas novas que nem sabia que existiam. Continuo a percorrer a calçada escura que liga prédios antigos nas ruas apertadas até me perder. Despreocupado por tal facto, deixo-me levar pelas colinas e vales que a rua atravessa numa interminável colecção de prédios baixos, velhos e sujos.
Esboço um sorriso ao perceber que me encontro na mesma situação em relação a ti. Sinto-me perdido nesta coisa nova de te ter. Já há tanto tempo que não amava alguém que não sei o que fazer. Sinto-me como um estrangeiro que chega a um país que desconhece a língua, as pessoas, os costumes. Estranho tudo; a comida, o modo de vida, até o próprio ar.
Considero todos estes factores para fazer um rápida análise a nós. Eu não sei o que faço, tu estás feliz. Será razão suficiente para interromper tudo o que conseguimos construir até aqui? Não sei o que deva fazer para que continues feliz, não sei como é que faço para evitar descer a rua errada que te leve à infelicidade e que me mataria por dentro. Sigo pela opção mais fácil de não pensar nisso, pelo menos até poder dizer-te isto e resolvermos juntos esta minha aflição. Ao pensar nisto percebo que me fizeste evitar recorrer à solução mais fácil e, por isso mesmo, devo-te mais do que a felicidade; tenho um dever de ter proteger sempre e nunca ceder ao impulso de te usar como escape para os meus problemas.
Paro as minhas deambulações físicas e psicológicas e sento-me no degrau de uma porta. O sol começa a declinar, fazendo as janelas brilhar e as ruas dourar. Um vento fresco sopra do rio e transforma o calor em algo suportável durante um bocado, o tempo suficiente para descansar de olhos fechados e tentar afastar da mente tudo isto, pelo menos só por um bocado…
Quando o calor volta, levanto-me e continuo o meu caminho rumo ao desconhecido. Chegado a uma bifurcação tomo o caminho que sobe pela direita e não deixo, uma vez mais, de me sentir como um estrangeiro que faz a escolha errada ao atravessar mais uma fronteira.