> Escritos: 04.2005

11.4.05

Rock

Os últimos acordes ainda ecoavam na sala. Esgotado, deixou cair a guitarra e foi a custo sentar-se numa das cadeiras mais próximas. Bebeu um copo que estava na mesa e pediu outro. Fechou os olhos e pôs as mãos em cima da mesa. Sentia os dedos a latejar, enquanto os ouvidos ainda tiniam.
Ao longe, ainda conseguia ouvir a melodia. Só queria que a dor passasse, só queria que aquilo acabasse. Bebeu o copo que lhe deram e recostou-se na cadeira. Fitou o palco durante alguns segundos; o suficiente para ver que alguém tomava o seu lugar.
E daqueles dedos saía uma melodia harmoniosa. Era como se fundissem com as cordas e daí resultasse um virtuosíssimo simbiótico. Deixou-se ficar mais uns segundos sentado a ouvir. Os segundos passaram e transformaram-se em minutos. E quando deu por si, já ouvia aquele desconhecido havia uma larga meia hora.
E foi aí que reparou que aquele desconhecido era ele. Livre de todas as inibições, de todos os receios e preocupações. Tocava de olhos fechados e sorriso na cara, com um ar totalmente descontraído, parecendo minimamente concentrado.
Envergonhado, ficou sentado tentando perceber porque é que não era sempre capaz de tocar assim. Percebeu, por fim, que o que fazia de mal era não viver o momento, não se deixar ir.
E desde aí adicionou alegria e vida a tudo o que fazia e quem o via, confundia-o com aquele desconhecido que uma noite subiu ao palco no bar e tocou a mais bela música que já se ouviu.

RCA