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17.5.07

Sublimação

O sangue corre-me nas veias como se transportasse vidro partido. Ao que parece, a dor psicológica potencia-se e manifesta-se tornando a dor real, física. Mas o que é que me pode magoar? O que é que neste momento me sobressalta? Nada.

Não temo pela solidão a que poderei estar fadado, não temo pelas horas frias do próximo inverno nem pelo isolamento nas tardes em que o sol declina e o vento faz arrepiar a pele quente sem que ninguém o veja.

Não temo por aquilo que já dei de barato. Temo agora pela minha própria subsistência física.

Escrever alivia o fardo. Já depositei aqui tanta coisa, tantos fantasmas exorcizados, tantas correntes destruídas, tanta dor sublimada pelos meus dedos. Mas que posso eu fazer se o meu organismo já está a dar de si? Que posso mais vivenciar, experimentar, escrever, descrever, negar, amar se não consigo fazer o sangue parar de bater tão forte, se não consigo fazer o coração sossegar, se não consigo controlar nada?