> Escritos: Neve

25.12.04

Neve

Caíu de joelhos no chão frio. Apoiou-se nas mãos para se levantar, mas não conseguiu. Deixou-se ficar assim, prostrada, durante algum tempo.

Os dedos, destapados, esgravatavam a neve em busca de pontos de apoio para se poder levantar. O pescoço nu enregelava com os flocos que entravam pela gola rasgada. O seu nariz estava tão frio, que já nem o sentia. A roupa molhada colava-se ao corpo e a sua dignidade desaparecia tão rapidamente como a água escorria pelo cabelo.

Percebeu que era inútil resistir à fúria dos elementos e deixou-se ficar deitada, na neve fria.

Enquanto esperava a morte, compreendeu que devia ter aproveitado a boleia daquele rapaz, que se ofereceu para a levar para casa, ou pelo menos para um sítio abrigado. Percebeu que, ao ter recusado a oferta, tinha-se deixado ficar para a morte. Não tinha sabido ser humilde para entrar no carro, quando ele tinha aberto a porta. O seu orgulho tinha-a impedido de se salvar e agora estava ali para morrer de frio, sozinha, no meio da floresta.

Conformou-se com o seu destino e pediu desculpa ao rapaz por ter sido má para ele. As últimas lágrimas que chorou congelaram ainda na sua cara. E morreu, sem um sorriso nos lábios.

RCA