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10.11.04

Estória de um acontecimento, narrada pela protagonista

O meu trabalho é simples: mato pessoas. Em troca de uma certa quantia, cometo homicídios. Dão-me dinheiro, eu mato a pessoa que quiserem. Simples, não? Eu pensava que sim, até que um dia o meu alvo era alguém que me custou matar.
Utilizei as minhas técnicas habituais para chegar perto de um alvo, fiz tudo de acordo com o plano. Neste caso, decidi que a melhor maneira de estar mais perto dele, seria engatá-lo. E foi o que fiz. Só que aqui surgiu o primeiro contratempo: ele gostou de mim a sério. Ele próprio me disse, e eu sentia-o na maneira como falava comigo. Vi-me forçada a passar mais algum tempo com ele, dando a mim própria a desculpa (e a quem me tinha dado este trabalho) que ainda não surgira uma boa oportunidade para matá-lo.
O tempo foi passando, e eu apercebi-me que também começava a gostar dele, infringido as duas regras do assassinato por sedução: a primeira, não nos apaixonarmos pelo alvo, a segunda, não deixar que o alvo se apaixone por nós. Mesmo sabendo isto, continuei a estar com ele e a ser feliz ao lado dele. Estava decidida a abandonar esta vida. Só que os meus segredos atormentavam-me e não podia dizer-lhe que era uma assassina a soldo contratada para matá-lo. A ele, que me fazia feliz. Ele percebia que eu ficava angustiada muitas vezes, mas nunca soube a razão de tal. Quando via que eu estava assim, confortava-me. Eu ficava pior, pois sabia que não podia fazer aquilo. Decidi tentar nunca pensar mais no caso, e por uns tempos, consegui.
Até que um dia, eles voltaram. Disseram-me que se eu não o matasse em vinte e quatro horas, matavam-me e a ele. Já sabiam do nosso relacionamento e por isso mesmo me pressionaram ainda mais. E eu cedi. Telefonei-lhe, disse-lhe que precisava de estar com ele. Convidou-me para a sua casa. Quando lá cheguei, cumprimentou-me com um beijo terno e carinhoso. Era bastante mais difícil do que eu pensava, mas tinha que o fazer. Disse-lhe que amava-o como nunca tinha amado ninguém na minha vida, e pedi-lhe perdão. Depois alvejei-o no coração e na cabeça. À queima-roupa, sem piedade.
Agora, ele jaz aos meus pés, esvaindo-se em sangue. Tinha morto o homem que amava e que me tinha amado como nunca ninguém o tinha feito. E, estranhamente, não consegui sentir arrependimento. Agora que ele está morto, sinto que posso seguir a minha vida em frente, pois ele está fora da equação e as pessoas que já não fazem parte da minha vida, por elas só consigo sentir desprezo.

RCA

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Só me faz lembrar de um livro:
"Loba Solitaria: Missão Eldorado"

9:50 da tarde  

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