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17.11.04

Angústia

Vejo o céu azul límpido. Não há nuvens, só uma imensidão azul. À minha direita, consigo ouvir o mar. A ondulação cadenciada é calma; o som faz evocar sítios longínquos e exóticos que sei agora que nunca verei. E esta dor, ah! esta dor...
Estendo os braços e agarro na areia sobre a qual estou deitado. Está húmida e endurece. O sol projecta a sua luz laranja sobre mim, a praia e o mar; ganhamos tonalidades estranhas. Uma brisa sopra do mar, a brisa da maré a vazar. Os meus lábios sabem a sal, saberia bem o beijo que já não vou dar. E esta dor que me esmaga peito, que não me abandona...
Escurece. A brisa torna-se vento frio. A angústia corta-me o peito e faz-me soltar lágrimas. Sinto-me a afundar, de tanto o peso no coração. Dói-me a respirar, dói-me a abrir os olhos, dói-me tudo.
As primeiras estrelas e planetas já brilham no céu. O tempo não pára à minha volta, mas o meu tempo está a esgotar-se. Sinto-o na areia fria e dura, no vento gélido e no céu escuro. As lágrimas já não saiem. A dor vai desaparecendo. O peso que me estilhaçou o peito fez os seus danos. Compreendo agora porque dizem que todas as criaturas na Terra morrem sozinhas. Rio-me.
E com um sorriso nos lábios, morro.

RCA