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10.11.04

Estória de um acontecimento, narrada pela vítima

Conheci uma mulher. Estava num bar, com uns amigos, quando uma mulher me aborda. Pede-me um cigarro, dou-lhe. Ela é muito bonita, reparo. Morena, de olhos verdes, com óptima figura. Veste-se bem. Sinto-me mesmo atraído por esta desconhecida e tento meter mais conversa com ela. Consigo. Parece-me que ela também está interessada em mim. Trocamos números antes de nos separarmos. Vou para casa e quando me deito, sinto um formigueiro na barriga, daqueles que não sentia desde a universidade.
No dia seguinte, telefono-lhe. Pergunto-lhe se se lembra de mim. A maneira efusiva com que me responde faz o meu estômago dar outro salto. Combinamos um jantar para mais logo. Passo o resto da tarde inquieto; estou mesmo ansioso por ir jantar com ela. Há algum tempo que não conhecia nenhuma mulher assim tão bonita e, à primeira vista, interessante.
Jantamos. Conversamos sobre muitas coisas: sobre mim, sobre ela, sobre o que cada um faz. Tenho a distinta impressão que ela me esconde algo, mas não deve ser muito significativo, uma vez que ela não parece preocupada, tendo segredos dentro dela. Tento não pensar nisso, e concentro-me em causar boa impressão. Mas isso nem parece necessário, uma vez que ela está embevecida com cada palavra que digo. No fim do jantar, olha-me expectante; parece que adivinha o que quero fazer. Aproximamo-nos. As suas pestanas longas quase que me tocam a cara. Sigo o impulso e beijo-a. Perante a sua hesitação, peço-lhe desculpa. Para minha surpresa, ela diz que não faz mal e, por sua vez, beija-me. Ficamos assim uns momentos a olharmo-nos nos olhos, até que ela me pergunta se a minha casa é muito longe dali. Digo-lhe que tenho carro perto e saímos do restaurante quase a correr.
Durante o trajecto, podia sentir-se a atracção magnética que existia dentro do carro. Enquanto guio, ela beija-me a cara e mexe-me no cabelo. Peço-lhe para parar, porque estamos quase a chegar. Ao ouvir isso, insiste ainda mais; sinto agora a língua dela na minha orelha. Quando finalmente chegamos, ela obriga-me a correr para entrar em casa. Assim que fecho a porta, sinto dois braços a puxarem-me pela cintura para dentro do meu quarto e deixo-me ir.
Nos dias seguintes encontramo-nos várias vezes. Acho que para uma relação assim começar da maneira que começou, é porque há sentimentos muito fortes dos dois lados. Digo-lhe isto, ela ri-se e não diz nada. Mesmo não sabendo pela parte dela, sei que por mim, sim. Não sei se se pode dizer isto logo ao fim de uma semana, mas amo-a.
Um dia, recebeu um telefonema. Ficou bastante perturbada e quando lhe perguntei o que é que se passava, não quis responder. Quando tento insistir, fecha-se ainda mais. Percebo que alguma coisa não estava bem e abraço-a. Cubro-a de beijos e sinto as suas lágrimas. Pergunto-lhe o que se passa e ela responde que me ama. Beijamo-nos apaixonadamente e ela pede-me para não a deixar. Digo-lhe que nunca conseguiría fazer isso, amo-a demasiado. Ela parece mais reconfortada e diz-me novamente que me ama.
Uma semana depois, telefona-me. Diz-me que tem que falar comigo e eu convido-a para vir ter a minha casa, onde estou. Ao fim de algum tempo, ouço a campainha tocar. Quando abro a porta, ela parece bastante nervosa. Puxo-a para dentro e digo-lhe que tive saudades dela. Beijo-a e pergunto-lhe o que se passa. Diz-me que me ama e pede-me desculpa. Quando vou a perguntar por quê, ela saca de uma pistola e dispara. Sinto o coração a explodir e a última coisa em que consigo pensar é: porquê eu? O que é que eu fiz de mal?

RCA

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Adoro este tipo de estórias.

7:48 da tarde  

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