> Escritos: Canto

16.6.07

Canto

Embalado pelo canto da chuva, saí de casa e estaquei, de pé, sobre a terra escurecida. Deixei que as gotas rebolassem livremente pela minha cara, sentindo a sua acção purificadora instalar-se em cada sulco da minha pele; tomei-lhe o gosto.

Deixei-me envolver pelo canto da chuva. Entrou pelos meus ouvidos e contou-me segredos e fez-me promessas de paz. Fechou-me os olhos gentilmente e despiu-me da minha infindável solidão. Cobriu-me com as suas gotas e acariciou-me suavemente.

O canto da chuva persistiu e entrou-me pelos ouvidos. Colou-me o cabelo à testa e refrescou-me, aliviando-me do calor sufocante que me amarrava a garganta. Ensopou-me as roupas de encontro ao corpo, encheu-me de alívio.

O canto da chuva explicou-me porque é que a chuva quando cai, cai para todos. Mas prometeu-me que às vezes, cairia só para mim, quando lhe pedisse, quando estivesse só e triste.

E é por isso que quando a chuva canta, especo perante a imensidão da água que cai sobre mim e deixo-me envolver nas suas palavras, esperando que me conte mais segredos e me diga quando é que a solidão se irá embora de vez.


RCA

E apenas uma pergunta: há quanto tempo não olhamos simplesmente pela janela para a chuva que cai na noite vazia?

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

bom trabalho. blog interessante.

3:40 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home