> Escritos: 20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

21.6.07

20, ou a banda sonora da vida de nós os dois

16. Bird York - In The Deep

Chego a casa e atiro as chaves para onde forem. Vou até à sala e abro o armário. Tiro uma garrafa de whisky e sento-me no sofá com ela pousada na mesinha à minha frente. Não quero fazer isto mas é mais forte que eu e tu não estás aqui para segurar a minha mão que levanta a garrafa e a leva à minha boca. O gargalo de vidro frio entra em contacto com os meus lábios que anseiam pelo líquido fino, salgado e alcoólico. Bebo um gole, dois goles, três goles. Bebo até deixar de sentir a boca. Pouso a garrafa outra vez na mesinha e fito-a, não percebendo como é que alguma vez pensei que seria capaz de escapar.
Continuo a beber, continuo a pensar em beber mais e a pensar em quantas garrafas haverá mais. Esta acabou, vou buscar outra. Levanto-me e perco o equilíbrio mas estoicamente consigo chegar ao armário e sacar outra garrafa. Tento beber mas não sai nada. Percebo porquê e arranco com os dentes a rolha de borracha. O gin começa agora a deslizar e a arranhar a minha garganta que em breve também deixarei de sentir. Esmurro o chão quando esta acaba e tiro outra.
Não me lembro, porque já não conseguia ler o rótulo da garrafa que bebi a seguir, o que era esta agora, mas sei que já não há retorno e nenhuma possibilidade de isto acabar bem. Quando três garrafas vazias jazem juntas e o seu vidro retine por acção de espasmos que sacodem o meu corpo deitado, levanto-me e, a custo, levo mais uma garrafa comigo até ao quarto, onde procuro na mesa de cabeceira os analgésicos que nunca falharam em tirar-me a dor.
Volto para a sala. Engulo uns quantos comprimidos e empurro-os para baixo com a ajuda do whisky que tenho na mão. Deito-me de lado e observo as garrafas vazias que velam por mim nesta noite escura. Sinto-me a flutuar e a nadar em tanto álcool. Sinto-me a vogar em mares profundos tão salgados que não me deixam afundar e que me afastam da dor. Quero sentir-me sempre assim; completamente isolado de todo e qualquer estímulo que possa contrariar a impulsão do sal e que me leve para o fundo. Tomo mais uns comprimidos, só para me impedir de pensar mais e para ver se consigo fechar os olhos e não ver mais nada do que a escuridão.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

olá
merda de país ( mundo) onde um menino de 20 anos se sente como uma pessoa de meia idade.
Espero que o desespero dure pouco tempo e vá à luta . Nós , os cotas , precisamos de vocês para uma nova perspectiva da vida. E desculpem termos construido um mundo tâo feio e frio.

11:16 da tarde  

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