> Escritos: Água

15.3.05

Água

Quero tornar-me água; ser levado pelo mar adentro, bater-me contra as rochas, embalar suavemente navios, agitar-me furiosamente quando me apetecer.
Quero rugir durante a noite para libertar-me da dor, quero murmurar de manhã, de mansinho, para que todos os seres venham ter comigo. Quero fazer parte do ciclo da vida; quero que as pessoas admirem a minha cor quando o sol mergulhar em mim. Quero que as gaivotas façam voos rasantes à minha superfície; quero que as pessoas mergulhem em mim.
Quero dar a voltar ao mundo sete vezes e não me cansar; quero ver os icebergues e os glaciares, quero correr debaixo das tundras e das estepes geladas; quero saborear o gosto das cidades costeiras e cosmopolitas; quero fazer a separação entre as águas mortais e os desertos ferventes; quero acariciar as ilhas, quero velar junto dos vulcões submarinos. Quero passear entre as selvas, quero deslizar suavemente pelos pântanos, quero galgar fronteiras e voltar para junto do berço dos oceanos. Quero encher o olhar de coisas novas, quero indefinir-me, quero chamar por alguém, quero libertar-me de ti.
Ah!, como eu invejo o mar.


RCA