> Escritos: Caminhava

15.3.05

Caminhava

Caminhava, sob o sol escaldante, sobre o alcatrão fervente. Passada após passada, conquistava terreno ao horizonte, longínquo mas redentor. Todas as suas energias concentravam-se para dar mais um passo em direcção àquilo que julgava ser o seu objectivo.
Por vezes, sentia fraquezas; esqueletos e restos adjacentes ao seu caminho faziam-no pensar em desistir e voltar para trás. Momentos de atribulação, onde não se via em seu redor uma única gota de água, fonte de esperança e salvação. E, nessas alturas, não raras eram as vezes em que pensava mesmo desistir, como se aquele caminho, aquela determinação não valesse a pena.
Mas, precisamente nessas alturas, lembrava-se de toda a sua convicção e do porquê em continuar, apesar de tudo. E era isso que lhe dava as forças necessárias para lutar contra os demónios e os esqueletos à beira da estrada.
E continuava. Sempre a caminhar, para o seu objectivo; sem nunca desistir, mesmo quando a esperança era parca ou nenhuma, pois desistir seria ceder aos esqueletos e restos de outros desistentes. Ele era diferente, e por isso mesmo caminhava. Indiferente a pressões, necessidades, vontades.
Por isso mesmo, a única coisa que ele queria, para além de chegar aonde queria, era que o deixassem caminhar.


RCA


Se ele chegou de facto ao que pretendia, cabe a cada um observar e tirar as suas próprias conclusões. Tudo o que ele queria que se lembrassem, é que ele só queria caminhar, à sua própria vontade.