> Escritos: Inveja ou O segundo aniversário de estoicismo

6.1.06

Inveja ou O segundo aniversário de estoicismo

Revejo mentalmente os estados diferentes de cada um à partida para ao que chegamos agora. Fiquei claramente para trás em algum ponto da corrida, mas nem o sei identificar, tantos são os momentos que me parecem possíveis de os ser.

Fiquei para trás irremediavelmente no momento em que abri ambas as mãos e esperei, esperei, esperei... No momento em que me apercebi que já não havia nada por esperar, foi quando soube que fiquei para trás. Entre esses dois momentos, dor. Dor de tal intensidade que deixou sequelas para o que ainda hoje vivo e digo e sinto e faço. As feridas podem até já ter cicratizado, podem até já ter fechado e nunca serão abertas, mas doiem. Doiem enquanto o meu sangue passar perto delas, doerão sempre enquanto as mostrar de tal forma a que alguém as pode tocar.

E caminho, sob a chuva, sob o sol, sobre a estrada, sobre a rocha; caminho sempre em busca do trilho de que me afastei para que possa recomeçar. E invejo quem dele nunca se afastou ou o encontrou mais rapidamente que eu. Invejo o talento de outrém, porque eu não consigo encontrar a fonte de onde eles bebem, não recebo a energia que os faz mover para encontrar o caminho, não encontro o caminho que os faz reviver aquilo a que todos temos direito, excepto eu, pois inadvertidamente devo ter infringido uma lei qualquer desconhecida de nós, mortais.

Mas conformo-me na minha inconformidade. Sempre me senti como Prometeu, sempre inconformado com aquilo a que tinha que obedecer. Nada há de mudar, cometerei sempre os mesmos delitos, pois para isso fui gerado e criado. A minha busca da felicidade moderada reside e passa pela necessidade de equilíbrio mas sem cometer os excessos daqueles que precisam de retirar, sem nunca repôr.

Conformo-me por agora com o meu estoicismo, mas vivo na certeza que cedo ou seguramente me inconformarei e disso me rebelarei. Vivo na certeza que hei-de ser feliz.


RCA

2 Comments:

Blogger Vanessa said...

Sem dúvida o teu melhor texto =), não há palavras, está fantástico. Consegues passar para palavras aquilo que temos preso na garganta e que não sai, não sai...

Muitos Parabéns!
******bjo

1:09 da tarde  
Blogger Vanessa said...

Só agora li a tua pergunta. Não sei como cheguei ao teu blog, comecei a clicar em varios blogs, a ler várias passagens e quando dei por mim já cá tinha chegado*

1:12 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home